Ter esperado um tempo para escrever essa resenha me deu a oportunidade de ler o que vem sendo escrito sobre o game e ver como as opiniões estão divididas. Vejo no Dragon Age 2 um jogo de personalidade, e como tal, impossível de agradar a gregos e troianos.
Num primeiro momento ficam evidentes as mudanças que visam de alguma maneira tornar o novo blockbuster da Bioware um game mais contemporâneo em vários aspectos, tanto visuais como narrativos, obedecendo as tendências lançadas, algumas delas inclusive pelo outro carro chefe do estúdio, a franquia Mass Effect.
Visualmente o jogo sofreu uma espécie de lavagem, as texturas não são pobres, mas ganharem ares mais simples, mais "clean",como se tivesse acontecido uma reformulação da palheta de cores, diferentemente do tom de pintura e mais escuro predominante do primeiro jogo. Isso não é ruim em absoluto, apenas é um gosto diferente. Essa faxina é muito bem vinda na interface do game, os ícones ficaram mais simples de entender, mais intuitivos, com dicas do seu funcionamento a partir do seu formato (hexagonos para habilidades sustentadas, losangos para item e habilidades utilizáveis), inventário visualmente mais organizado e confortável de navegar, apesar da falta do charme do inventário do game anterior, mais tradicional, com visual de pergaminho. De maneira geral tudo ficou mais fácil de navegar, melhor polido para simplificar o acesso a informação para o jogador, menos charme, mais eficiência.
Das mudanças funcionais e estéticas uma das mais bem vindas é a nova tela e mecanismo de habilidades. As habilidades estão ainda divididas em escolas, mas a progressão não é mais linear, mas sim em "raiz", sendo assim o jogador não se vê tão obrigado a comprar habilidades que não queria, embora ainda tenha de cumprir pré-requitos em alguns casos (dois pontos gastos em entropia para enfim chegar a uma habilidade mais funda na raiz ) . Muitas habilidades também foram limadas, principalmente aquelas que, quem se lembra do game anterior, vai notar que não casariam com o novo estilo. Talvez você sinta saudade de algumas delas, mas não falta.
Talvez o maior ponto de discórdia seja, na verdade, a narrativa. Todos esperam de um grande RPG uma narrativa épica, ninguém nunca se cansa de salvar a nação e o mundo. Mas dessa vez é diferente, o jogador muda de papel, ao invés de ator de um evento muito maior que ele (derrotar o Blight), para um protagonista de fato. O anão Varric, contará por meio de um flashback jogável a trajetória que você vai construir, a odisséia pessoal de Hawke passando de refugiado de Ferelden para campeão de Kirkwall. No início acontece um estranhamento pela mudança do eixo narrativo, não existe mais uma grande catástrofe para ser impedida, as motivações do protagonista são outras, a princípio recuperar a sua vida destruída pelo Blight, mas logo ocorre uma grande confusão, como alguém que pretendia ir embora de Kirkwall se torna o campeão? Eu me senti convencido de que os eventos que se desenrolam são motivação o suficiente, não menores do que os dos outros jogos, porém não são todos que se sentiram a vontade com esse novo estilo de contar uma história de uma game.
Possivelmente a frustração mais geral para todos seja o universo restrito do segundo episodio da franquia, as ruas de Kirkwall e as redondezas da cidade-estado não são espaço épico o suficiente, como as poucas 50 horas de jogo bem demonstram. E assim como isso deve ter deixado muita gente insatisfeita, também existe uma verdade universal sobre Dragon Age 2, esse game vale a pena ser jogado.
Renan Pesciotta